Qual é o melhor método de leitura?

A essa pergunta muitos pensam ter encontrado a resposta e a divulgam euforicamente! Aí ouvimos afirmações que alegam que o melhor sistema é o da mandala astrológica e a melhor aplicação das cartas é o método europeu (Aquele que combina um arcano maior a um menor nas leituras). E pronto! Uma mesma fórmula para todo mundo! Não é incrível?… Ainda bem que não funciona. Por um lado eu acredito que as pessoas que divulgam tais sentenças o fazem com a melhor das intenções. Querem partilhar algo que descobriram para si como sendo o apropriado, por outro lado estão fazendo a mais suja técnica de marketing capitalista, um anúncio que nas entrelinhas deixa escapar algo como: “Me ouçam, eu sei de algo que vocês não sabem” e para isso se cercam de teorias da física quântica, da psicologia junguiana, de outros autores e visitas a museus. O absurdo disso tudo é que tais pessoas parecem ignorar que o tarot não é uma matéria exata, mas sim um sistema subjetivo para acessar o canal intuitivo interior e, através dele, a sabedoria divina que está em nós como em todos os outros pontos do universo.

Não devemos esquecer de que os sistemas e métodos de disposição das cartas são apenas meios com os quais acessamos a fonte interior, por isso sua importância é secundária.

Muitas pessoas não conseguem ler as cartas depois de fazer cursos, ou perdem o interesse logo em seguida, por que os seus professores engessaram suas mentes com suas próprias visões, excluindo qualquer outro caminho simplesmente porque eles já testaram e “não funcionou”. Roubando de seus alunos a coisa mais importante que um buscador pode ter que é a sua própria experiência.

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O tempo me ensinou que o mais sensato é dizer aos alunos: “Vou ensinar-lhes o que deu certo para mim, mas não esqueçam que somos pessoas diferentes e que a mesma fórmula não funciona para todos. Pesquisem outros métodos em sua jornada, mas não deixem de dar um tempo razoável ao experimento, inclusive com o método que vou ensinar agora”.

Muitos alunos meus adaptam-se bem ao que eu ensino, outros escolhem seus próprios meios de acessar o intricado simbolismo do tarot.

Os sistemas de disposição das cartas são inúmeros, centenas com certeza. No Brasil a mandala astrológica é a mais usada… No mundo todo o método mais conhecido e aplicado é o da Cruz Celta (o meu favorito). São populares por sua aplicabilidade prática e clara, mas além deles há outros como a leitura cabalística, a dos chakras, a da estrela de cinco pontas e assim por diante. Todos ótimos, mas merecem ser testados. Não acredite numa única palavra do que digo, nem no que diz nenhum autor ou professor, sem antes fazer a sua experiência.

A questão que está sendo abordada aqui é a funcionabilidade do método chamado americano – que mistura arcanos maiores e menores – com relação ao método europeu – que combina sequencialmente um arcano maior a um arcano menor. O estranho é que afamados autores de tarot da Europa se utilizam do método americano. Nomes como: Hajo Banzhaf e Gerd Ziegler (Alemanha), Liz Greene e Juliet Shraman-Burke (Inglaterra) e Veet Pramad (Espanha).

Diferenças

A diferença consiste basicamente em como se dispõe as cartas na mesa. Os defensores do Método Europeu dizem que a leitura fica mais clara e dirigida. O arcano maior apontaria o “o que” e o arcano menor apontaria o “como”. A carta de O Carro junto com o dois de copas na posição dos relacionamentos, por exemplo, indicaria o crescimento intenso de um relacionamento terno e com muita sintonia, ou ao invés do dois de copas, um rei de ouros indicaria, entre outras coisas, a aproximação de uma pessoa de personalidade firme, estável e cativante. É um belo modo de se ler, eu mesmo já li assim. Com o tempo me pareceu cartesiano demais, causal demais. Isso leva àquilo. Os arcanos de naipe ficam reduzidos a coadjuvantes. Não é possível ver assim a presença dos elementos no momento interior de quem se consulta.

No Método Americano as cartas dos arcanos maiores e menores são lançadas em conjunto e interagem livremente. Robert Wang, tarólogo e cabalista, diz que uma presença dominante de arcanos maiores numa leitura indicaria o plano do espírito ou do carma atuando no momento de quem se consulta. Já a presença dos arcanos menores num lançamento indicaria o plano do arbítrio humano colhendo o resultado de suas ações imediatas na vida presente. Além disso, a presença de um determinado naipe indica a direção interior em que se encontra cada consulente. Por exemplo, uma predominância de cartas do naipe de paus indica com clareza uma busca por mudança, excitação, ou iluminação, dependendo dos outros componentes do jogo. A falta de um determinado naipe também é muito significativa. Recentemente uma cliente me procurou e o tarot revelou que ela estava muito certa da direção a tomar na vida profissional, havia um projeto claro na sua mente, mas simplesmente não conseguia fazê-lo! Ela concordou e disse que se sentia travada e era isso que a motivara à consulta. Começamos a conversar, até que num dado momento eu reparei que ela não tinha um único naipe de ouros na mesa. Ouros é o naipe que corresponde à terra e abrange as qualidades da concretização e da realização.

O primeiro método é muito causal relaciona-se com a velha fórmula newtoniana ação-reação, o segundo abrange mais o elemento acausal (fora da relação causa e efeito), centrado mais no homem e em suas escolhas.

Quero assinalar mais uma vez de que esse é o resultado dos experimentos feitos por mim ao longo dos meus anos de estudo. Eu, assim como todo mundo, acabei me identificando com os autores e professores que vinham de encontro ao que eu tinha de aprender para construir o meu sistema interno de valores. Todos nós temos coisas a aprender que diferem uns dos outros e não existe um aprendizado melhor que o outro, todos são necessários. Não existe uma única verdade, todas as verdades são as múltiplas faces da verdade!

Não nos esqueçamos de que é perfeitamente possível intercalar o uso dos dois métodos numa mesma consulta, e de que há exímios leitores de tarot que se utilizam apenas dos arcanos maiores nas leituras que fazem. Há um nome para esse método? O que diremos desses leitores, que são “meio” tarólogos? É um ponto de vista. Por outro lado, se eles são capazes de dizer coisas precisas com algumas cartas dos arcanos maiores enquanto outros precisam do baralho todo para dizer a mesma coisa, quem parece meio tarólogo sob essa perspectiva? Acredito que métodos de leitura são meros complementos ou pontes para que o psiquismo mais profundo venha à tona, nada mais. Nenhum método ou sistema é mais preciso ou eficiente. O que determina uma boa leitura é a intimidade com os símbolos do tarot aliado a uma boa intuição e imaginação. Creio que o mais importante é ouvir o coração, a voz do altíssimo dentro de cada um, esse é o caminho que vem inspirando místicos, espiritualistas, xamãs, ou seja lá como chamem aqueles que aspiram uma interação com o plano maior da consciência. Aqueles para quem o tarot é uma atividade técnica, bem talvez esses tenham se perdido na loucura do ego – o soldado da mente inferior – o que gera uma vaidade travestida de lógica pretensiosamente acadêmica.

JAIME E. CANNES

Publicado no Clube do Tarô – Novembro de 2008