Tarot e Cabala – Arcanos Menores

Foi Éliphas Lévi quem no século XIX, em seu livro Dogma e Ritual de Alta Magia, relacionou pela primeira vez esses dois maravilhosos sistemas de conhecimento espiritual. Chegou a alegar, inclusive, que um seria incompreensível sem o outro. Mas o que é a cabala? Também chamada de kabbalah, qabalah e muitas outras grafias. Cabala é um esquema simbólico que preserva em si as relações entre o homem e Deus. Já foi um dos fundamentos da religião judaica, sendo depois incorporada durante a renascença, pelos estudiosos europeus, que se mostravam grandemente entusiasmados com todo e qualquer tipo de estudo espiritual religioso ou oculto. Nascia assim a cabala esotérica que passou a ser de domínio universal. Nessa mesma época ascendia também na Europa o esoterismo cristão, motivado pelo mesmo movimento.

A cabala deriva da palavra hebraica kibel, que quer dizer receber, acolher. Simboliza a tradição oral transmitida de boca a ouvido, aos patriarcas judeus e depois a todos os homens. A estrutura principal cabalística são as sephiroth, que em hebraico significa números, e o singular sephirah, é número. Elas representam as emanações de deus neste mundo. Originam-se umas das outras e sucedem-se umas às outras. Cada uma possui um símbolo, uma cor, e um nome divino. Os nomes todos reunidos para os místicos judeus, são o santo nome de Deus. O estudo da relação da cabala com o tarot pode ser muito enriquecedor tanto para tarólogos tanto quanto para cabalistas. Talvez Éliphas Lévi tenha exagerado na sua explanação sobre a relação dos dois sistemas, mas é mesmo muito impressionante com certos símbolos e nomes das sephiroth cabem perfeitamente bem na relação com os arcanos do tarot. Vejamos:

1. KETHER – COROA

Cor: brancoTítulos: A fonte de energia do infinito invisível.A inspiração daquilo que não existe.

A origem daquilo que existe.

De onde viemos e para onde voltaremos.

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Arcanos: os quatro Ases

• Ás de Paus – Início vigoroso, força criativa e fertilizadora, impacto transformador.

• Ás de Copas – Sentimento transbordante, canalização de forças espirituais superiores, doação, amor potencial.

• Ás de Espadas – Inspiração da verdade, clareza, perfeição sem mácula, encontro da verdade.

• Ás de Ouros – Expressão do potencial interno, manifestação de dons no mundo prático, expansão de si mesmo.

Símbolos: Coroa, Ponto, Suástica (Símbolo do poder solar).

2. CHOKOMAH – SABEDORIA

Cor: cinza.
Títulos: O pai celestial.
O desejo de poder.
Fluxo da energia dinâmica.
O grande estimulador.
O primeiro positivo..
Arcanos: os quatro Dois e os quatro Reis
• 2 de Paus – Domínio, exploração de possibilidades, vontade de crescer, prontidão para agir.
• 2 de Copas – Amor, atração, complementação de qualidades, amistosidade, sintonia.
• 2 de Espadas – Divisão da consciência, dúvida, indecisão, falta de fé; busca pela paz.
• 2 de Ouros – Mudança, adaptação às circunstâncias sem perder valores importantes, flexibilidade.
• Rei de Paus – Líder, comanda com vigor e alegria, movimento vigoroso para o progresso, fogoso e sedutor.
• Rei de Copas – Amigo, conselheiro, curador, terapeuta, vasculha o seu interior em busca das suas sombras para transmutá-las.
• Rei de Espadas – Estrategista, intelectual, administrador, a capacidade da mente de estabelecer esquemas e cumpri-los.
• Rei de Ouros – O grande realizador, sintetiza os outros elementos, tem uma visão holística da vida.
Símbolos: o falo, a linha, o yod (primeira letra hebraica).

3. BINAH – COMPREENSÃO

Cor: preto.
Títulos: Mãe suprema.
O desejo de criar.
Organizadora e compensadora.
O grande mar.
Arcanos: os quatro Três e as quatro Rainhas
• 3 de Paus – O encontro com o novo, exploração de novos caminhos, movimento e mudança.
• 3 de Copas – Celebração, entusiasmo com os primeiros resultados obtidos numa empreitada, abundância.
• 3 de Espadas – Dor, separação, conflito entre mente e coração, dever e querer, escolha dolorosa.
• 3 de Ouros – Trabalho, progresso direcionado segundo a própria orientação e vontade.
• Rainha de Paus – Acolhedora, nutridora, calor humano nas relações e atividades de um modo geral, fazedora de ninhos.
• Rainha de Copas – Sensitiva, boa ouvinte, acolhe e compreende as dores alheias, profunda sintonia com as coisas da alma.
• Rainha de Espadas – Capacidade de separar o objetivo do subjetivo, clareza mental e de propósito, grande autonomia.
• Rainha de Ouros – Sensualidade, sintonia com as coisas do corpo e da matéria, deleite sensorial e material.
Símbolos: Yoni (a vagina arquetípica da grande mãe), o triângulo, a taça, o planeta Saturno.

4. CHESED – MISERICÓRDIA

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Cor: azul.Títulos: o construtor

Pai amoroso que é rei.

Receptáculo do poderes.

Estrutura de manifestação.

Arcanos: os quatro Quatro.

• 4 de Paus – Ação conjunta por um objetivo, junção de forças internas ou externas, ação harmoniosa.

• 4 de Copas – Interiorização, momento de subtrair as influências externas, momento calmo, serenidade.

• 4 de Espadas – Parada para recuperação de forças, postergação de decisões, suspensão do fluxo natural dos acontecimentos, retiro.

• 4 de Ouros – Estabilidade material, construção de bases firmes e bem estruturadas, segurança, estabilidade

Símbolos: a pirâmide, o quadrado, o cetro, o Planeta Júpiter.

5. GEBURAH – FORÇA

Cor: vermelho.
Títulos: O destruidor
Rei guerreiro
Capacidade de julgamento
Clarificador
Eliminador do inútil
Arcanos: os quatro Cinco
• 5 de Paus – Conflito, litígios de todo tipo, desconforto ou desagrado, frustração do ego.
• 5 de Copas – Apego ao passado, trauma, perda do prazer, desapontamento.
• 5 de Espadas – Comparação do ego, espírito de derrota, inveja, balanço negativo da própria vida.
• 5 de Ouros – Perda financeira, sentir-se excluído, carência, sentimento de menos valia e não merecimento
Símbolos: O pentágono, espada, lança, açoite, o planeta Marte.

6. TIPHARET – BELEZA

Cor: amarelo.
Títulos: Consciência do eu superior e dos grandes mestres.
A visão da harmonia das coisas.
Cura e redenção.
Os reis elementares.
Arcanos: os quatro Seis e os Quatro Cavaleiros
• 6 de Paus – Vitória, autoconfiança, fama, brilho, reconhecimento dos méritos pessoais por si mesmo ou pelos outros.
• 6 de Copas – Visão de uma vida ideal embasado num molde do passado, saudade, romantismo, idealização do futuro ou da vida como um todo.
• 6 de Espadas – Estar sobrecarregado pelas opiniões e expectativas sociais, responsabilidade assumida por outrem.
• 6 de Ouros – Capacidade de auxiliar ao próximo, ou fazer concessões ou tempo todo por medo da reação dos outros.
• Cavaleiro de Paus – Mudança, desejo de melhorar algo ou tira-lhe o melhor; intensidade, desejo incontrolável.
• Cavaleiro de Copas – Dedicação, confiança, lançar-se por inteiro num empreendimento, apaixonar-se por algo ou alguém, a fé.
• Cavaleiro de Espadas – Guerreiro, avanço implacável sobre a meta, determinação, agressividade.
• Cavaleiro de Ouros – Trabalhador incansável, disciplina para se fazer ou realizar algo, seriedade, trabalho árduo mas profícuo.
Símbolos: a rosa-cruz, a cruz da cavalaria, o cubo, o Sol.

7. NETZACH – VITÓRIA

Cor: verde.
Títulos: Amor
Sentimentos e instintos.
A mente grupal.
A natureza.
As artes.
Arcanos: os quatro Sete.
• 7 de Paus – Vencer os próprios limites, ansiedade, quer mostrar o próprio valor, estresse.
• 7 de Copas – Ser assoberbado pelos próprios instintos, fantasias, confusão emocional, total falta de clareza.
• 7 de Espadas – Dissimulação, falsidade, usar”máscaras” ou subterfúgios para ser aceito socialmente.
• 7 de Ouros – Demora, respeito ao tempo natural, paciência, prudência. O avanço pode levar ao fracasso.
Símbolos: o cinto, a rosa, a lâmpada, o planeta Vênus.

8. HOD – ESPLENDOR

Cor: laranja
Títulos: A razão.
A mente individual.
Sistemas, a magia e a ciência.
Ponto de contato com os mestres.
Linguagem e imagens visuais.
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Arcanos: os quatro Oito
• 8 de Paus – Esclarecimento, alívio de tensões, abertura da mente, mudança de paradigmas, mudança física, viagem.
• 8 de Copas – Abandono do velho e estagnado em busca do mais puro e elevado, despedida, abandono.
• 8 de Espadas – A mente auto-crítica, culpa, confronto dos valores externos com os internos.
• 8 de Ouros – O trabalho minucioso, humildade fruto de maturidade espiritual ou resignação covarde.

Símbolos: Nomes e versículos, o avental do mago, o planeta Mercúrio.

9. YESOD – O ALICERCE

Cor: violeta.
Títulos: A luz astral.
O depósito de imagens.
As energias cíclicas subjacentes à matéria.
Arcanos: os quatro Nove.
• 9 de Paus – Uma grande força despendida, exaustão, empenho para manter algo conquistado com muito esforço; trabalho sem sentido.
• 9 de Copas – Felicidade material, satisfação dos desejos, ócio, descanso; preguiça, acomodação.
• 9 de Espadas – Sofrimento, auto-cobrança, sofrimento doloroso e intransferível; aprendizado obtido com a dor.
• 9 de Ouros – Amadurecimento, aprender com as experiências e vivências, atingir o topo do próprio potencial, ganho, auto-suficiência.
Símbolos: O perfume, as sandálias que se usa no templo, a Lua.

10. MALKUTH – O REINADO

Cor: Amarelo-limão, verde-oliva, castanho-avermelhado e preto.
Títulos: A terra em que caminhamos.
Kether inferior.
O complemento.
A mãe inferior.
Arcanos: os quatro Dez e os quatro Valetes (Princesas ou Pajens).
• 10 de Paus – Assumir grande responsabilidade, opressão das necessidades pessoais em prol de uma meta.
• 10 de Copas – Encontro da saciedade, sentimento de harmonia, sentir-se integrado a algo, grupo, família, empresa, etc.
• 10 de Espadas – Fim de um estágio da consciência para atingir outro, a morte dos valores do ego.
• 10 de Ouros – Assumir-se como co-autor da própria vida, cumprimento da obra a que se propôs.
• Valete de Paus – Alegria, espontaneidade, ação criativa que empolga; inconseqüência, imaturidade.
• Valete de Copas – Desejo de servir ao próximo, gentileza, delicadeza, sensibilidade artística ou espiritual.
• Valete de Espadas – Abarcar muitas idéias ao mesmo tempo, inovador no pensamento; confusão mental, excessos mentais.
• Valete de Ouros – Aprofundamento numa questão, estudo, aprendizado que reverte em ganho, crescimento.
Símbolos: O altar de dois cubos sobrepostos, a cruz grega (de braços iguais), o círculo, o triângulo e o último heh do nome sagrado de Deus.

Bibliografia:
Dion Fortune, A cabala mística. Editora Pensamento.
Charles Fielding, A cabala prática. Editora Pensamento.
Francisco V. Lorenz, Cabala. Editora Pensamento.
Perle Epstein, Cabala – o caminho da mística judaica. Editora Pensamento.
Robert Wang, O tarô cabalístico. Editora Pensamento.
Hellyette Malta Rossi, Kabalah – O caminho da flecha. F.E.E.U – Porto Alegre.
Galcy Rolim Corrêa, Cabala. F.E.E.U – Porto Alegre.
William What, Mistérios revelados da cabala. F.E.E.U – Porto Alegre.

JAIME E. CANNES

Publicado no Clube do Tarô – Fevereiro de 2009