O Tarot Circular

Todos os dias somos bombardeados com as possibilidades da internet de “aproximar as pessoas”. Assim as populações das mais longínquas localidades se conhecem trocam ideias, namoram, estudam e trabalham. Muitos são adeptos desse movimento e vemos trabalhos, que originalmente tratam de vibrações, contato e troca, como o tarot, sendo feitos via internet, msn, skype, etc…

Longe de mim fazer campanha contra a nova tecnologia, ela tem mesmo um lado fascinante onde pessoas se conectam e trocam informações de diferentes regiões do país e do globo. Isso pode mesmo trazer muito crescimento em muitos sentidos e permitir que se conheça o trabalho de quem quer que seja de um modo que antes seria impossível!

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O Mundo no Motherpeace Tarot.

O que me intriga é o fato de as pessoas ignorarem, ou fingirem não ver, é que isso carrega em si a grande armadilha de pseudo-relações estarem tomando o lugar de relações verdadeiramente humanas. E o computador, que iniciou como um recurso, logo, logo se tornará um refúgio. É um veículo que está dando vazão ao sentimento humano de desconfiança do próximo, de proteção e de outros complexos nada saudáveis gerados na nossa sociedade consumista e paranóica! No Japão, por exemplo, isso está virando uma epidemia entre os jovens, que um dia simplesmente se enclausuram dentro de casa e nunca mais saem. Vivem através de seus computadores. Recentemente no Brasil uma pesquisa evidenciou que o mesmo já começa a acontecer com os jovens daqui, 1/3 dos adolescentes entrevistados prefere encontros virtuais aos encontros reais.

Por outro lado outros movimentos da Nova Era, como xamanismo, tem salientado cada vez mais a necessidade de reunir as pessoas em circulo, promover atividades coletivas de crescimento com uma dinâmica grupal. A forma circular permite com  que os olhares se encontrem, e trocamos vibrações com olhar, nos expondo e expondo os outros numa troca igualitária que permite um conhecimento mútuo mais verdadeiro.

Em resposta a tarologia virtual está surgindo a proposta da leitura grupal de tarot. Autores como Vicky Noble e James Wanless trazem a ideia de reunir pessoas para exercitar a sua capacidade intuitiva interior de perceber os sinais inconscientes que passamos uns aos outros todos os dias e as imagens que formamos a partir desses sinais.

Ao contrário de uma leitura individual onde as informações são dadas de modo específico pelo leitor, a leitura coletiva procura trabalhar o modo como interagimos em níveis mais profundos uns com os outros. Inspirado por esse trabalho criei o Tarot Circular, cujo principal objetivo é o de criar uma série de interações usando as cartas para conscientizar os integrantes da vivência dos papéis que desempenham na vida comum, sem com que se deem por conta.

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Um “tecno-Buda”
www.what4.wordpress.com

Todos nós passamos informações para o mundo, as quais atuam, na grande maioria das vezes, de modo inconsciente e moldam as nossas relações e todo tipo de oportunidades que atraímos.

Uma vivência simples que se pode realizar com um grupo de pessoas consiste em fazer inicialmente uma forma de meditação conjunta para criar uma sintonia psíquica com o grupo. Feito isso se sentam todos em circulo e mentalizam conjuntamente para tirar, cada um, uma carta que represente a essência de suas vidas naquele momento. Logo em seguida puxam, cada um ao seu tempo, uma carta e a observam por alguns instantes. Em seguida aquele que estiver coordenando a vivência pede para que alguém inicie mostrando a sua carta para o grupo, caso haja necessidade ele pode até permitir que os outros participantes a peguem na mão. Passado esse momento as pessoas devem ser estimuladas a dizer o que sentiram das imagens que viram. É importante salientar aqui que o baralho usado tem de ter imagens claras e inspiradoras, e que não possua palavras-chave ao pé das cartas, como “Amor”, ou “Ruína”, como ocorre o Thoth tarot de Aleister Crowley. Essas palavras acabam por influenciar a livre interpretação das pessoas leigas. Quanto mais livre de influências, melhor.

É impressionante a quantidade de informações compatíveis com a vida daquele que retirou o arcano em questão que surgem. Muitas ampliações dos significados tradicionais do tarot acontecem, e o mais intrigante ainda, por pessoas que na maioria das vezes o conhecem muito pouco.

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Um círculo de relações
www.womenscollaborativecircle.blogspot.com

Depois disso aquele que primeiro retirou as carta é solicitado a falar e dizer se reconhece e si as coisas que os outros perceberam através dos arcanos. Na maioria das vezes as pessoas percebem exatamente o estado de espírito desse participante. Não é raro que ele /
ela pergunte espantado: ”Como pode?”. Respondo sempre que criamos muitas máscaras que são bem eficientes para a mente racional, mas que não enganam a percepção intuitiva. Os membros do grupo contam com o auxílio do tarot para deixar de lado suas mentes racionais e captar os sinais que estavam sendo transmitidos por outra via.

É justamente essa emanação que é liberada ao meio ambiente de algum modo e faz com que sejam atraídos para perto de cada pessoa outras com uma vibração correspondente. Então se você, de algum modo se sente inválido e em conseqüência disso está com baixa estima, provavelmente atrairá para perto de si pessoas e situações que afetem ainda mais esse estado de espírito. O problema é que a maioria de nós está completamente alheio a essas informações que são passadas de nós mesmo para o mundo ao redor.

Essa e muitas outras vivências coletivas com o tarot auxiliam a desarmar os mecanismos que criamos para alienar nossos sentimentos das nossas atitudes, o que invariavelmente confunde o andamento das nossas relações e do desenvolvimento pessoal.

A leitura coletiva com o tarot é uma forma de conhecer pessoas, trocar ideias e refletir sobre nossas atuações na vida e nas interações humanas.

JAIME E. CANNES

Publicado no Clube do Tarô em Dezembro de 2009