Resgatando o Curador Interno
A mais comum das crises na relação terapeuta-cliente é o da responsabilidade da cura. Quantas vezes terapeutas florais, ou de qualquer outra natureza, ouvem dos clientes a reclamação de que a terapia está demorando demais, e que eles acham que “Já era tempo de ter mudado uma porção de coisas.”? Muitas vezes essa cobrança chega quase como um anúncio terminal de que o cliente vai deixar o tratamento. Por mais que se diga que o processo de cura é uma interação criativa entre o cliente, o sistema escolhido e o terapeuta esse tipo de coisa sempre acontece mais cedo ou mais tarde.
A terapia floral é um dos sistemas de tratamento mais difíceis nessa relação, a que mais denuncia para aquele que se trata o quanto ele é responsável pelo processo da sua cura. O cliente tem de tomar as gotas, e tem de fazê-lo com uma certa regularidade. Não tomar as gotas significa inviabilizar o tratamento! A menos, é claro, que o terapeuta se valha de outros métodos de cura. Por um lado essa angústia pode ser facilmente compreendida, as pessoas buscam uma terapia para transformarem-se, para liberar algum padrão que não é mais condizente com suas expectativas de vida, e de fato o hiato que há entre o que não queremos e o que aspiramos é mesmo terrível! O problema é que muitos agem como se quisessem apenas “se livrar” do problema e veem o terapeuta como uma espécie de despachante desse tipo de coisa. Então o que fazer?
Self Heal, essência floral californiana que recupera o impulso da autocura.
Acho muito importante que se tenha uma conversa com o candidato ao tratamento explicando que os florais não podem ser tidos nem como muito lentos ou muito rápidos pelo simples motivo de que é justamente a postura que cada um assume dentro da terapia que a torna mais ou menos célere ou eficiente. Acho importante também ressaltar que o tratamento deve ser visto, antes de tudo, como um caminho, ou uma viagem para dentro de si mesmo onde desfrutar o passeio é tão ou mais importante do que alcançar esse ou aquele resultado. Comumente a ansiedade atrasa ou bloqueia qualquer resposta desejada. Sinto ser fundamental resgatar o curador interno de quem procura auxílio terapêutico. Dentro de uma perspectiva mais espiritual, e menos racional costumo explicar que dentro de cada um de nós vai uma sabedoria maior, uma porção superior, divina ou sagrada, que é a que nos fala por sussurros intuitivos quando precisamos de uma orientação, que se expressa através dos oráculos e dos sonhos, por exemplo, e que nos motiva a fazer um movimento de transformação interior. A essa face obscura e sábia parte da psique alguns chamam de “Curador interno”, aquele que vela por nossa evolução. C.G. Jung o chamou de self, aquela parte do inconsciente que tenta tornar a psique inteira e saudável integrando todas as suas partes, até mesmo as mais sombrias.
É evidente que alguns florais podem ajudar bastante nessa conscientização da própria responsabilidade diante da cura. O meu floral favorito é Self Heal, do sistema californiano (FES). O nome parece já dizer tudo, Auto-Cura. Costumo usá-lo quando o cliente mostra-se vacilante quanto a dar início ao tratamento simplesmente porque sente que o processo poderá ser longo demais e não tem certeza se “vai ter a paciência de esperar” ou quando ele (a) se sente cansado com toda a dinâmica terapêutica em si. É importante lembrar que da mesma forma que temos um curador interno instigando nossa evolução, temos também um sabotador que quer que tudo fique como está! O tipo que diz que “mais vale o mal conhecido do que o bem desconhecido”.
Por mais envolvido que esteja em uma terapia todos nós podemos enfraquecer de vez em quando. Somos humanos e tudo o que requer trabalho também desgasta nossas expectativas por melhoras, e o sistema nervoso que se abala com a repetição de um padrão que não se deseja mais, mesmo que ele se dê de modo cada vez mais enfraquecido. Costumo dizer que o caminho da cura é como a estrada de tijolos amarelos do Mágico de Oz, um lindo caminho onde fazemos muitas novas descobertas e amigos, mas que como toda a estrada, tem lá seus percalços e faz doer alguns calos.
Jaime E. Cannes
Publicado no Planeta Floral – www.planetafloral.com.br
Março 2011