Tarot e Florais – Uma Interação terapêutica
Conhecido como um instrumento da cartomancia para desvendar o desígnios do futuro, o tarot revelou uma outra face para aqueles que souberam procurar! Foi Jung quem primeiro reconheceu que as imagens dos arcanos do tarot seriam, segundo ele, “Os descendentes dos arquétipos da transformação”. Com o passar dos anos a linguagem mágica mostrou-se, sob muitos ângulos, semelhante a algumas abordagens, tanto da psicologia quanto da física quântica. O que criou uma perigosa tendência a se achar que ambas são uma coisa só! Isso tem indignado a muitos cientistas e envaidecido aos místicos (lamentavelmente). Tanto a ciência quanto a mística humana buscam os mesmos objetivos, mas trilham caminhos diferentes. O primeiro quer comprovar antes de crer, o que pode demorar anos, ou gerações! O outro crê antes de comprovar, confiando apenas na orientação intuitiva superior, e por isso pode descobrir certas verdades que a ciência comprova muito tempo depois. O crédito dado por cientistas se dá justamente porque a linguagem espiritual dos mitos sobre a criação do universo mostrou-se muito “moderna”, ou parecida com as mais recentes descobertas científicas. O valor do potencial da linguagem mágica e sua simbologia foram reconhecidos tanto pela psicologia quanto por alguns ramos da física, porque possuem valor em si. Para quem não acredita no tarot costumo perguntar: “Já fez uma consulta?”. O tarot faz muito mais do que mostrar o que irá acontecer, mostra principalmente o que está se passando tanto externamente, quanto internamente no momento presente de quem se consulta. As cartas do tarot funcionam como uma história em quadrinhos da alma. Essa comparação é que me parece mais adequada. Como cada um tem sua própria história, toda vez que retiramos um certo número de cartas do maço revelamos em que parte do trajeto pessoal estamos, revelamos nossa história através desses quadrinhos! Simples assim. É claro que a complexidade reside na interpretação das mensagens cifradas dos arcanos (palavra de origem latina que significa mistério ou segredo).
O Louco, o viajante do tarot. Símbolo que alude ao espírito do buscador presente em todos nós!
É interessante salientar que os símbolos do tarot são de domínio e abrangência universal, não existe um criador reconhecido do oráculo! Até onde alcançam os registros históricos, o baralho do tarot foi criado para ser um jogo da realeza renascentista francesa e italiana. Um jogo que espelhasse todas as faces da humanidade e do mundo conhecido na época. Acabou refletindo a alma humana em sua mais pura essência. O arcano de A Morte, por exemplo, é um esqueleto segurando uma foice. Em todas as culturas do mundo essa imagem é o arauto das transformações, das perdas, da dor e da separação! Numa leitura ele pode trazer essas emoções e vivências, mas também pode estar representado um corte necessário, como abandonar uma situação profissional ou afetiva estagnada ou fazer uma cirurgia.
Com o passar dos anos fui testemunhando o potencial do tarot para trazer para fora as emoções mais recônditas daqueles que me procuravam, com todos os seus conflitos e projeções. A terapia floral foi a resposta para a pergunta mais frequente que eu me fazia: “Como posso ajudar nesse processo que as cartas mostraram?”. Eu tinha sempre a impressão de que trazia à tona esqueletos e fantasmas dos armários da psique, que depois ficavam vagando pela cabeça das pessoas. Por mais que o tarot mostrasse um caminho a seguir, na maioria das vezes, segui-lo não era nada fácil!
O tarot, uma viagem simbólica pela vida prática e espiritual do homem
Meu trabalho foi se moldando para uma avaliação do momento e do reconhecimento de uma consciência tríplice do presente. Primeiro o reconhecimento do que temos de aprender com as experiências que estamos vivendo, depois descobrir qual é o entrave maior ou o bloqueio, que pode ter uma origem psicológica mais profunda. Por fim, qual é o apelo da alma, o que deve ser considerado e que é realmente importante. Na maioria das vezes esse apelo intuitivo é ignorado pelo condicionamento racional em que vivemos.
Depois dessa avaliação, que funciona como uma espiada no espelho interior, eu passo o receituário de florais. Os nomes das essências fluem naturalmente durante a interpretação. Alguns autores preferem associar arcanos a essências florais, como Ednamara Marques em seu livro: Tarô, das correlações arquetípicas à função terapêutica, ou simulando interpretações para cada um dos arcanos segundo suas posições numa leitura de tarot como o faz Veet Pramad em seu livro: Curso de tarô, e seu uso terapêutico. Respeito profundamente a iniciativa dos autores, mas penso que essa abordagem é mecanicista demais! Cada arcano possui uma miríade de significados possíveis que vão se desdobrando conforme as leituras e suas múltiplas combinações vão se formando! Para esse mesmo arcano de A Morte, podemos indicar florais como Jasminun de Minas para auxiliar em transformações pessoais profundas, Madressilva de Saint Germain, para romper com o passado, ou mesmo Hornbeam de Bach para a perda de energia vital ou mesmo uma convalescença. Veja quantas possibilidades!… As muitas possibilidades combinatórias flexibilizam o significado dos símbolos, sendo impossível associá-lo a um único floral, ou mesmo um único sistema. Aconselho a quem queria se utilizar do tarot como um instrumento de avaliação terapêutica, a se aprofundarem ao máximo no significado dos arcanos ao invés de se guiar pelas obras de certos autores. Ou seja, façam a sua experiência!
A INTERPRETAÇÃO
O tarot é um conjunto de imagens arquetípicas, imagens que falam à alma humana com muita profundidade. Seus símbolos são reconhecíveis a qualquer pessoa no planeta. Os arcanos do tarot retratam as experiências comuns a toda humanidade. Eles são divididos em três níveis simbólicos, por assim dizer. O primeiro nível e o dos arcanos maiores, que assim são chamados por possuírem significados mais abrangentes, ou flexíveis como vimos no arcano XIII A Morte, representam a evolução da alma humana através das suas experiências. Experiências essas muito bem representadas nessa série de imagens: Romances (Os amantes), crises pessoais (O Enforcado), ruína (A Torre), esforços corados de êxito (A Força), e assim por diante! Os arcanos maiores do tarot representam, o quinto elemento da natureza, o éter, ou o espírito!
A Morte – arcano XIII – do tarot de Marselha
O segundo nível dos arcanos são as cartas da corte. Elas representam as muitas máscaras ou personalidades que vestimos ao longo da vida e mostradas na série anterior. Temos muitas facetas de nossa personalidade que se revelam conforme as situações que vivemos: Românticos e sensuais (Rainha de paus), trabalhadores e disciplinados (Cavaleiros de ouros)… Algumas vezes as cartas da corte podem estar se referindo a pessoas próximas que sustentam as características por elas representadas!
A rainha de fogo – naipe de paus – do Osho Zen Tarot
O terceiro e último nível são as quarenta cartas numeradas de um a dez (Número dos ciclos perfeitos), onde as consequências das posturas que tomamos (Cartas da corte) associadas ás nossas experiências de vida (Arcanos maiores) deixam marcas visíveis no nosso mundo prático: tranquilidade e paz (4 de copas), frustrações e conflitos (5 de paus)… Os arcanos da corte juntamente com os arcanos numerados de um a dez são chamados de arcanos menores, e isso não tem nada a ver com sua importância dentro do jogo. Quer dizer apenas que seus significados são mais simples, focados e dirigidos pelo naipe (Palavra de origem árabe, cuja tradução é mensageiro) a que pertencem. Os naipes do tarot correspondem aos elementos naturais e as características psicológicas a eles associados. Paus (Fogo), ação, movimento, emoção. Copas (Água), sentimento, sensibilidade, psiquismo. Espadas (Ar), intelecto, razão, planejamento. Ouros (Terra), corpo, valores, concretização ou manifestação.
O quatro de copas do Thoth tarot, de Aleister Crowley
Misturando-se o conjunto dos arcanos maiores e menores do tarot, obtemos um poderoso instrumento de avaliação e compreensão profunda do momento presente, com possibilidade de investigação do passado e de sondagem de tendências futuras. As imagens do tarot mostram desde fatos práticos até a ação de antigos condicionamentos emocionais e de padrões de comportamento subjacentes e esses condicionamentos! Essa característica desse sistema oracular é perfeita para o desenvolvimento de um processo de cura interior. As informações obtidas numa leitura podem ser muito libertadoras por si mesmas, e com o suporte da terapia floral podem promover um intenso movimento de cura e transformação na vida de quem quer que se abra para essa vivência.
Jaime E. Cannes – Tarólogo e terapeuta holístico
Publicado no site Planeta Floral – www.planetafloral.com.br
Dezembro 2010